26.8.05

Marcos e o Vôo

- Então voe! gritou o homem de barbas cinzas, incrédulo com a audácia do menino.

Marcos era um rapaz teimoso, sabia que podia voar! Tendo essa certeza; pulou do teto de sua casa, teve a súbita sensação de vôo, mas derrepente uma força estranha puxou-lhe para baixo com tamanha intensidade que se sentiu sugado para o chão e acabou resultando numa fratura no braço esquerdo.

- Tá vendo rapaz teimoso! disse o homem de barbas cinzas com aquele ar de superioridade de adultos frustrados - Tá pensando que é o que? Gente não voa muleque.
Marcos teve vontade de gritar. Porém vendo que o homem de barbas cinzas teve razão decidiu sabiamente se calar e se deixar levar ao hospital para curar aquele braço enfermo.

Voltando do hospital Marcos decidiu estudar os motivos pelos quais o vôo não fora bem sucedido. Subiu até o telhado, estudou minunciosamente as telhas, sentiu o vento no rosto e tentou imaginar o que lhe fizera cair de modo tão brusco e tão forte no chão. Derrepente veio-lhe a solução!

- Sim! o vento! não havia vento o suficiente naquele momento!

Um sorriso de esperança brotou-lhe como nunca naquele rosto de apenas dez anos de idade. Decidiu chamar, com o braço enfaixado, o velho de barbas cinzas. Falou-lhe que havia descoberto o motivo pelo qual ele não houvera voado e que agora ele iria voar de verdade. O Velho, incrédulo, deu risada da cara do menino e topou ver a outra loucura.

O menino então subiu ao telhado, sentiu o vento com força batendo no seu rosto, era mais do que o suficiente para fazer-lhe voar além dos limites. Estudou o céu, viu que fazia um dia lindo e que volitar nessas condições seria perfeito. Imaginou o oceano visto de cima e os olhares incrédulos das pessoas. Se viu apertando a mão do Cristo Redentor, dando olá à Estátua da Liberdade, contornando o mundo todo por cima. Foi tudo tão real que lhe motivou a procurar o ponto mais alto do teto de sua casa. Percebendo que o menino estava indo longe demais o Velho desesperadamente gritou.

- Menino louco! não pule daí, está muito alto!

Mas era tarde. Marcos havia pulado. E no momento em que o Velho gritava ele estava sentindo toda a plenitude do vento batendo em seu rosto, não acreditava, estava mesmo voado. Via as pessoas lá de cima, sentia uma paz louca a invadir o seu ser. O que lhe motivou a dar piruetas pelo ar. Marcos estava experimentanto a felicidade completa. Pensou em fazer tudo aquilo que havia imaginado, mas algo lhe chamou a atenção. O Velho estava no chão chorando incessantemente. Ao se aproximar viu o motivo das lagrimas. Era o seu corpo, com a cabeça toda ensaguentada, sem vida. Não acreditava naquilo! não podia ser ele. Ora ele estava ali, logo ali em cima voando e vendo tudo aquilo. Esse não sou eu, pensou o menino. Tendo a certeza de que aquilo que estava deitado no chão não era a sua essência, partiu em vôo maluco pelo mundo.



Ps. Editado

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