14.12.06

Terno Azul

Aquele terno azul lhe enchia de calor. Não soubera dizer que diabos o fizera vestir aquilo naquele dia. Achava que talvez um terno azul caísse bem para impressionar aquela menina com quem já há algum tempo vinha ficando e que não sentia tanta segurança quanto a um possível futuro relacionamento, rendendo-lhe nada mais que dolorosos apertos no peito. Mas aquela merda estava apenas lhe matando de calor.

Entrou no bar, falou com alguns conhecidos, escutou um pouco daquele som, tomou algumas latinhas de cerveja e nada dela aparecer. A cada minuto que passava sem ela, sem noticias dela, seu coração apertava um pouco mais e a angústia de um amor mal correspondido crescia dentro dele. Quando isso acontecia os ambientes ficavam quentes demais, era como se o mundo se fechasse aos poucos com ele dentro. As pessoas iam e vinham, tudo girava e a solidão inerente daquele ser crescia numa velocidade espantável. Não agüentou. Ela não vinha mais. Pegou a sua carteira de cigarros e foi para fora daquele bar. Foi para a sarjeta. Sentou-se e acendeu o seu primeiro cigarro de amor solitário.

Ficou lá, sob o efeito da nicotina, numa letargia, numa solidão. Cantarolava baixinho alguma música romântica e pensava nela, quando se deu conta que uma menina o observara. Ela tinha um copo de vinho na mão e um cigarro na boca e de vez em quando jogava um olhar para ele. Um olhar esquisito, algo com um quê de desejo. Ele reparou no corpo da moça. Pernas grossas do jeito que ele gostava, seios fartos, bunda empinada e um belo rosto. Por um momento se viu na cama com ela. Vingar-se-ia do seu amor que lhe deixara ali, apenas com os seus cigarros e com toda aquela dor. Ela lhe parecia inteligente e por um momento acreditou que falaria com ele e, até mesmo, que daria para ele. Pensou em se levantar, trocar uma idéia e tentar garantir a noite. Mas o seu coração falou mais alto. Ficou só ali, observando e vendo-a ir embora, enquanto ele ficava acompanhado dos seus velhos e bons cigarros e dos seus devaneios de amor.

Nenhum comentário: