15.7.06

Verdade

- Enjoei.

Distraída, Maria olha para o marido que fitava-a com um olhar sério.

- É, enjoei!

Maria, então, coloca o pano de prato sobre a mesa e diz:

- Tá sentindo alguma coisa meu bem? Bem que o doutor Juvenal disse para você não comer frituras...

Fabrício mantinha seu olhar sério. Não havia o mínimo sinal de alguma enfermidade. Só havia aquele olhar frio, determinado.

- Não Maria, não estou enjoado. Eu enjoei.

Então Maria pergunta:

- Enjoou de que hômi?

- De tudo.

Maria, ainda sem entender, aproxima-se com o seu cheiro de rosas molhadas, senta-se ao lado de Fabrício, com as suas mãos de dona-de-casa tremendo, suando frio e com seus belos olhos azuis implorando explicações. Fabrício então explica.

- Enjoei da nossa vida, dessa nossa forma de viver hipócrita. Chego em casa todas as noites, você me prepara essa janta e vamos durmir. Ao amanhecer, transamos, eu vou para o trabalho e você vai deixar os meninos no colégio. Enjoei Maria, dessa mentira que vivemos. Eu sei muito bem que não te satisfaço na cama e sei que não me amas tanto como dizes. Seu José vem quase todas as tardes aqui, para suprir a minha falta. As noites que chego mais tarde, você bem sabe que estou com outras, porque assim como eu não te satisfaço, você não me satisfaz também. Não Maria, esse não era o amor do qual eu lia, do qual nos prometíamos quando éramos mais jovens. O que mais me dói é o fato de escondermos isso nessas carapuças de felicidades. Lembra daquela festa? Estávamos brigados, mas lá, na frente de todos éramos o casal mais feliz do mundo. Não Maria, não quero mais viver isso, chega de mentiras! Vou embora.

Ao dizer isso, Fabrício se levantou e foi para o seu quarto, arrumar as suas coisas. Maria era só lágrimas. Tomou então o papel, escreveu algumas linhas e entregou ao marido. Se quiser, esqueço de tudo, dou a volta ao mundo com você, mudo, te mostro a minha verdade e você me mostra a sua. Mas por favor Fabrício, você deveria saber que te amo mais que tudo.

Fabrício, fitou-a sério novamente e disse.

- Depois resolvemos as pendências dos nossos filhos.

Acendeu um cigarro, tirou o terno e saiu para nunca mais voltar. Tranformando Maria, em Maria das Lágrimas.

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