25.3.06

Musa

Tomou o seu café habitual. Pegou as chaves do seu automovel. Estava decidido a fazer. Dessa noite ela não escaparia.

Entrou no seu automóvel. Repensou as frases que iria dizer. Tinha decorado tudo antes de sair e houvera imaginado toda aquela situação. Calculista, calculou todas as possíveis falhas do que iria dizer, todo os pontos os quais o faria perder o controle da situação e toda a possível reação dela. Podia contar nos dedos o número foras que havia levado durante a vida. Tudo isso devido a essa magnífica virtude de sempre calcular tudo e se adiantar às reações. Desde as possiveis falas, até as possiveis expressões. Saberia quando ela não tivesse mais gostando e evitaria abrir o jogo. Mas saberia também quando ela o desejasse e daria o bote. Pela a sua análise antecipada, saberia que a noite estava ganha. Era mais um alvo para a sua coleção.

Enquanto dirigia, lembrava do perfume que houvera escolhido para a situação. Com toda a sua experiência em mulheres, sabia que um bom perfume deixaria seu trabalho ainda mais fácil. Escolheu um com um sutil cheiro de jasmim, um daqueles perfumes que só se sente o cheiro no momento do abraço. Um dos seus perfumes fatais. Usava também a sua melhor roupa. Um blaser cinza com uma gravata preta, combinando com a cor do aro dos seus óculos. Os sapatos foram escolhidos a dedo para a ocasião. Eram também pretos, bem engraxados que brilhavam ao contato com a luz. Com tudo isso, sorria para si mesmo saberia que o tiro seria perfeito.

Desceu do carro e escolheu a melhor mesa daquele restaurante chinês. Uma mesa que dava vista à bela lua cheia que brilhava naquela noite. Sentou-se e esperou pacientemente a sua presa chegar. Os minutos pareciam não passar. Olhava seu celular de instante em instante. Odiava o péssimo custume que certas mulheres têm de se atrasar. Tentava controlar a ansiedade cantarolando algumas músicas tristes ou alguns dos seus poemas preferidos. O tempo parecia não passar.

Eis que ela chegou. Estava vestida de branco. Um vestido branco que ia até os joelhos. Usava também um colar da mesma cor, tinha seus belos cabelos castanhos presos junto à nuca, com alguns cachos caindo sobre os olhos. Vinha olhando fixamente para ele. O seu olhar lhe tirava o folêgo. Caminhava com uma elegância ímpar e exalava um cheiro de pétala de rosas que fazia com que todos os homens do restaurante parasse para deslumbrar a musa que vinha ali caminhando. Ele a admirava. E diante de tal deslumbramento esqueceu de todas as frases, esqueceu de todas as suas regras de sedução, esqueceu de todos os seus problemas, de toda a sua vida, de si mesmo. O mundo houvera reduzido apenas a ela, só ela agora fazia sentido. Seu coração batia numa velocidade incontrolável e seus olhos se enxeram de lágrimas ao notar a sua aproximação. Sentiu-se como uma criança diante da chegada de uma Deusa.

Ela se sentou na cadeira em frente a dele e disse:
- Desculpe-me pelo atraso.

Desse dia em diante, ele passou a acreditar no amor.

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